quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Os desafios da educação brasileira

Luciana Maria Allan*

Um levantamento da campanha Brasil Ponto a Ponto, realizado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), mostra que a educação é o tema que mais afeta a vida dos brasileiros. A campanha, que ouviu mais de 360 mil pessoas sobre o que elas acreditam que precisa mudar no Brasil, irá subsidiar a construção do próximo Relatório de Desenvolvimento Humano Nacional do PNUD que, desde 1990, discute um tema importante no contexto do país e divulga o seu Índice de Desenvolvimento Humano (IDH).
As conclusões da campanha apontam que a qualidade do aprendizado lidera as preocupações dos brasileiros. Tanta preocupação tem fundamento: apesar de praticamente atingir a universalização do ensino fundamental, o Brasil ainda precisa superar desafios no acesso ao ensino médio e na qualidade do seu ensino.
O jovem dos dias atuais, por meio das tecnologias de informação e comunicação, pode ter acesso a uma infinidade de possibilidades. Neste contexto, o modelo de ensino atual, que trata os alunos de forma homogênea, repassando os mesmos conteúdos a todos, ordenados de forma linear e compartimentados, não atende mais às necessidades da sociedade do conhecimento. O projeto de ensino, que prevê o direcionamento exclusivo do professor na decisão do quê, como e quando aprender precisa ser substituído por projetos de aprendizagem, nos quais os interesses e necessidades dos alunos emergem, são estimulados e vivenciados.
Nesse sistema, o professor deixa de ser o detentor exclusivo do conhecimento e passa a ser um orientador de trabalhos de pesquisa, possibilitando que os alunos desenvolvam competências relacionadas à habilidade de selecionar conteúdos, interpretar adequadamente uma informação, fazer uma leitura crítica do meio, dominar os recursos de busca nas diferentes mídias, produzir textos e comunicar-se de forma rápida e eficiente utilizando as ferramentas digitais. Ao interagir tão bem com a tecnologia, o jovem estará preparado para, além de atender às demandas do mercado de trabalho, estar consciente de suas potencialidades e possibilidades.
Esta mudança de paradigma é um movimento que já se iniciou no Brasil, mas que precisa ser fortalecido e ampliado. A educação só promoverá o nosso desenvolvimento quando for reestruturado nosso sistema de ensino.
Para isso, é fundamental que as políticas públicas invistam na formação dos professores, na disponibilização de infraestrutura de forma adequada, no envolvimento dos alunos e, principalmente, na disseminação de um sentimento que desperte, tanto nos educadores quanto nos estudantes, a certeza de que a transformação da escola é possível.

*Luciana Maria Allan é diretora do Instituto Crescer Para a Cidadania e doutoranda na Faculdade de Educação da USP (daniela@firstcom.com.br).

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