segunda-feira, 18 de julho de 2011

VYGOTSKY E A MENTE HUMANA

Solange Gomes da Fonseca

A psicologia sociohistorica traz seu bojo a concepção de que todo “homem” se constitui
como ser humano pelas relações que estabelece com os outros. Desde o nosso nascimento
somos socialmente dependentes dos outros e entramos em um processo histórico que, de
um lado, nos oferece os dados sobre o mundo e visões, de outro lado, permite a constituição
de uma visão pessoal sobre este mesmo mundo.

O momento do nascimento de cada um esta inserido em um tempo e em um espaço em
movimento constante.

A historia de nossa vida caminha de forma a processarem toda uma historia de vida
integrada com outras muitas historias que se cruzam naquele momento.

Como seres humanos e, portanto, ontologicamente sociais, passamos a construir a nossa
historia só e exclusivamente com a participação dos outros e da apropriação do patrimônio
cultural da humanidade.

Na teoria sócio interacionista de Vygotsky, encontramos uma visão de desenvolvimento
humano baseado na idéia de um organismo ativo cujo pensamento é construído em um
ambiente histórico e cultural; a criança reconstrói internamente uma atividade externa,
como resultado de processo interativo que se dão ao longo do tempo.

As interações sociais na perspectiva sociohistorica permitem pensar um ser humano em
constante construção e transformação que, mediante as interações sociais, conquista e
confere novos significados e olhares para a vida em sociedade.

Vygotsky, ao desenvolver sua teoria, parece não ter pretendido criar um modelo simples e
linear de transmissão da experiência cultural do adulto para a criança.

O pensamento aparece como dialogo consigo mesmo e o raciocínio como uma
argumentação metacognitiva; a atividade mental não é nem pode ser mera copia do dialogo
adulto/criança, posto que esta ultima participa ativamente da interação. Desta forma, a
internalização não pode ser entendida como adoção passiva do conhecimento previamente
apresentado à criança pelo adulto. Antes, é um processo de reconstrução mental do
funcionamento interpsicologico.

As proposições de Vygotsky acerca do processo de formação de conceitos nos remetem
à discussão das relações entre o pensamento e a linguagem, à questão da mediação
cultural no processo de construção de significados por parte do indivíduo, ao processo de
internalização e ao papel da escola na transmissão de conhecimentos de natureza diferente
daqueles aprendidos na vida cotidiana.

Em A Formação Social da Mente, Vygotsky coloca que: ‘todas as funções no
desenvolvimento da criança aparecem duas vezes: primeiro no nível social, e depois no
nível individual; primeiro entre pessoas (interpsicologico), e, depois no interior da criança
(intrapsicologico) “.

Do mesmo modo as postulações de Vygotsky sobre a formação dos conceitos cotidianos
concretizam suas concepções sobre o processo de formação de conceitos científicos
remetem a idéia mais geral acerca do desenvolvimento humano.

As dimensões cognitivas e afetivas do funcionamento psicológico tem sido tratadas, ao

longo da historia da Psicologia como ciência, de forma separada, nas diferentes tradições
dentro dessa disciplina. Atualmente, no entanto, percebe-se uma tendência de reunião
desses dois aspectos, numa tentativa de recomposição do ser psicológico completo.

Em termos contemporâneos, Yygotsky poderia ser considerado um cognitivista na medida
em que se preocupa com a investigação dos processos internos relacionados à aquisição,
organização e uso do conhecimento e, especificamente, com sua dimensão simbólica.

No entanto, é interessante notar, que Vygotsky nunca usou o termo “cognição”. Na
verdade, apenas recentemente é que um equivalente mais precisa de cognitivo entrou no
léxico da psicologia soviética, com o termo “kognitivnii”. Isto não significa, de forma
alguma, que os psicólogos soviéticos não tenham estudado processos como pensamento,
percepção e memória. Os termos utilizados por Vygotsky para designar processos que
denominamos cognitivos são “funções mentais” e “consciência”.

O desenvolvimento da linguagem serve como paradigma de todo problema examinado.
A linguagem origina-se em primeiro lugar como meio de comunicação entre o aluno e
o professor, onde começa acontecer a interação. Dito isso, não é necessário sublinhar
que a característica essencial da aprendizagem é que engedra a área de desenvolvimento
potencial, ou seja, que faz nascer, estimula e ativa no aluno um grupo de processos internos
de desenvolvimento no âmbito das inter-relações com outros que, na continuação, são
absorvidos pelo curso interior de desenvolvimento e se convertem em aquisições internas
do aluno.

Considerada deste ponto de vista, a aprendizagem não é, em si mesma, desenvolvimento,
mas uma correta organização da aprendizagem do aluno. Conduz ao desenvolvimento
mental, ativa todo um grupo de processos de desenvolvimento. Por isso, a aprendizagem
é um momento intrinsecamente necessário e universal para que se desenvolvam no aluno
essas características humanas não naturais, mas formadas historicamente.

Para Vygotsky, um aspecto essencial do aprendizado é o fato de ele criar uma zona de
desenvolvimento proximal; ou seja, o aprendizado desperta vários processos internos
de desenvolvimento, que são capazes de operar somente quando a criança interage com
pessoas em seu ambiente e quando em cooperação co m seus companheiros. Uma vez
internalizados esses processos tornam, -se parte das aquisições do desenvolvi mento
independentemente da criança.

O principal componente inovador da teoria de Vygotsky é a incorporação de fatores sociais
na formação de conceitos.

Em Vygotsky os conceitos vão sendo formados individualmente por cada sujeito ate
atingirem o estagio de pseudoconceitos. Nesta fase é a mediação da cultura que permite
uma convergência dos pseudoconceitos em direção a conceitos compartilhados por um
certo agrupamento humano. Sem este papel mediador os pseudoconceitos evoluiriam em
direção arbitraria, não, permitindo a vida social.

A obra do psicólogo ressalta o papel da escola no desenvolvimento mental das crianças e, é
uma das mais estudadas pela pedagogia contemporânea.

A parte mais conhecida da extensa obra produzida por Vygotsky em seu curto tempo de
vida converge para o tema da criação da cultura.

Vygotsky atribui a um papel preponderante às relações sociais nesse processo, tanto que a

corrente pedagógica que se originou de seu pensamento é chamada de socioconstrutivismo
ou sociointeracionismo.

Bibliografia

Publicado em 12/01/2011 11:01:00

Currículo(s) do(s) autor(es)

Solange Gomes da Fonseca - (clique no nome para enviar um e-mail ao autor) - Graduada
em Portugues/Literatura pela Universidade SUAM no Rio de Janeiro, ano 1979.
Especialista em Linguagem pela Faculdase Internacional de Curitiba, ano de 2004, e
membro do grupo de pesquisa Linguagem e Cultura da UFPR.

Referência:

FONSECA, S. G. Vygotsky e a mente humana. Disponível em <http://
www.psicopedagogia.com.br/new1_artigo.asp?entrID=1323>. Acesso em 24 jan 2011